Hoje logo cedo me deparei com a seguinte foto, que faz parte de uma sequência registrando a ação de um integrante da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. Ele expulsa dois dos desabrigados da Telerj, que acampavam em frente à Prefeitura. Não contente com o constrangimento causado, esvazia a garrafa de água que toma dos dois nos seus pertences. Só posso dar a legenda de "barbárie" à foto.
Isso posto, venho aqui compartilhar uma breve reflexão que assoma nosso coletivo nessa última semana.
Sobre a frustração de não ter um projeto aprovado e as
intempéries de um mundo capitalista
E nosso nome não estava na lista. Frustração. Caímos do
cavalo. Demos com a cara na porta, com os burros n’água. E agora, José?
Que sentimento é esse? Que sensação de impotência é essa que
surge de repente? Será tudo trabalho perdido, fadado a se diluir em ares
pós-modernos?
O que mudou? Em grande parte já fazíamos tudo o que
queríamos/podíamos fazer. Núcleos, pesquisas, ações, estudos, cines,
intervenções, debates. Tudo “pelo amor à arte”, pela crença na militância e
pela busca de algum sentido nessa bodega de mundo em que a gente vive! Em que
lugar opera então a desilusão resultante dessa nossa malfadada empreitada por
vias institucionais?
Talvez da constatação (já sabida há muito, mas latente agora
que esfregada na cara) de que a gente vive nesse mundo onde a [sobre]vida só se
concretiza quando satisfazemos nossas necessidades mais básicas por meio de
valores de troca. E a nossa arte, especialmente a nossa, que esperneia e se
rejeita enquanto mercadoria, não tem valor nesse mundo, muito pelo contrário. É
varrida a todo instante para debaixo do tapete ou cozinha em águas democráticas
e populares.
E aí? Como é que a gente rejeita o sistema de dentro dele?
Como a gente sobrevive nessa brincadeira sem graça? É triste perceber que a possibilidade
da gente pegar com as próprias mãos as nossas potencialidades para ser dono do
que a gente faz está fadada a ser realizada no tempo que sobra do nosso corre
cotidiano para ter comida na mesa. E o tempo da experimentação, da descoberta,
da apropriação, cadê? Com que qualidade e com que potência estética a gente vai
dar nosso grito de resistência?
Parece que buscar recursos financeiros e se embrenhar nesse
mar burocrático institucional é se deixar cooptar e se enquadrar um pouco mais
naquilo que a gente mesmo rejeita. Mas não seria nosso direito ter as condições
materiais para realizar a arte e tudo aquilo que nos torna humanamente
sensíveis ao outro e a realidade que nos cerca? Como viver em meio à barbárie
sem ter a possibilidade do grito e ainda ser... humano?
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