quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre a frustração de não ter um projeto aprovado e as intempéries de um mundo capitalista


Hoje logo cedo me deparei com a seguinte foto, que faz parte de uma sequência registrando a ação de um integrante da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. Ele expulsa dois dos desabrigados da Telerj, que acampavam em frente à Prefeitura. Não contente com o constrangimento causado, esvazia a garrafa de água que toma dos dois nos seus pertences. Só posso dar a legenda de "barbárie" à foto.

Isso posto, venho aqui compartilhar uma breve reflexão que assoma nosso coletivo nessa última semana.


Sobre a frustração de não ter um projeto aprovado e as intempéries de um mundo capitalista

E nosso nome não estava na lista. Frustração. Caímos do cavalo. Demos com a cara na porta, com os burros n’água. E agora, José?
Que sentimento é esse? Que sensação de impotência é essa que surge de repente? Será tudo trabalho perdido, fadado a se diluir em ares pós-modernos?
O que mudou? Em grande parte já fazíamos tudo o que queríamos/podíamos fazer. Núcleos, pesquisas, ações, estudos, cines, intervenções, debates. Tudo “pelo amor à arte”, pela crença na militância e pela busca de algum sentido nessa bodega de mundo em que a gente vive! Em que lugar opera então a desilusão resultante dessa nossa malfadada empreitada por vias institucionais?
Talvez da constatação (já sabida há muito, mas latente agora que esfregada na cara) de que a gente vive nesse mundo onde a [sobre]vida só se concretiza quando satisfazemos nossas necessidades mais básicas por meio de valores de troca. E a nossa arte, especialmente a nossa, que esperneia e se rejeita enquanto mercadoria, não tem valor nesse mundo, muito pelo contrário. É varrida a todo instante para debaixo do tapete ou cozinha em águas democráticas e populares.
E aí? Como é que a gente rejeita o sistema de dentro dele? Como a gente sobrevive nessa brincadeira sem graça? É triste perceber que a possibilidade da gente pegar com as próprias mãos as nossas potencialidades para ser dono do que a gente faz está fadada a ser realizada no tempo que sobra do nosso corre cotidiano para ter comida na mesa. E o tempo da experimentação, da descoberta, da apropriação, cadê? Com que qualidade e com que potência estética a gente vai dar nosso grito de resistência?
Parece que buscar recursos financeiros e se embrenhar nesse mar burocrático institucional é se deixar cooptar e se enquadrar um pouco mais naquilo que a gente mesmo rejeita. Mas não seria nosso direito ter as condições materiais para realizar a arte e tudo aquilo que nos torna humanamente sensíveis ao outro e a realidade que nos cerca? Como viver em meio à barbárie sem ter a possibilidade do grito e ainda ser... humano?
Questões. Há ainda muito a se discutir, questionar. Mas sobra tempo?

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