terça-feira, 15 de abril de 2014

Descobrindo nossos vizinhos!

"se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céu
se cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro
 você perguntará por que cantamos"

Já há algum tempo temos trocado mensagens com uma galera que trabalha com teatro pertinho da nossa sede lá da Patriarca. São os meninos do Tal&Pá, projeto super importante do Centro Cultural Arenart, que fomenta criações de três grupos de alunos dentro do espaço cedido de uma escola. 

Nesse final de semana, a galera de lá realizou a 1ª Mostra Comunidade em Cena. Teve apresentação, oficina, debate e muita troca. Momento de se mostrar e se reconhecer nos outros coletivos que fazem arte pela região. Afinal, temos muito em comum. E aqui segue um relato de uma curiosa, que se aproxima e se surpreende cada vez mais com o que vê.



Divididos por idade, esses grupos (Tal&Pá Junior, Tal&Pá e Tal&Pá Sênior) funcionam ao mesmo tempo como escola de teatro e espaço de convívio e de construção coletiva. É lindo de ver como cada integrante se apropria do espaço utilizado e compra a briga de mantê-lo. Reforma, pintura, manutenção dos espaços e da limpeza, tudo organizado por eles.
Durante o pouco tempo que passamos assistindo aos seus ensaios e participando de sua mostra, pudemos ter a plena certeza de que o teatro ali reencontra seu espaço de ritual, de celebração. Ninguém está ali para brincadeiras e o respeito como aquelas crianças e adolescentes falam de sua 'profissão' é de dar inveja a muita gente que faz 'projetinho' por aí. Foi no susto que redescobri, vendo e ouvindo aquela gente falar com brilho no olhar, o quanto eu mesma tinha deixado de cultivar o teatro nas minhas vivências.
Ao pessoal que organiza tudo e que gere esse projeto, minha mais profunda admiração. É com facilidade que a gente percebe o compromisso com que estão envolvidos nisso e o quão empenhados estão em tocar o barco, apesar das dificuldades. Que são muitas. Mas muitas mesmo!
E é aí que a gente se pega pensando de novo naquela mesma questão que martela na cabeça. Que lugar malfadado em que se encontra a arte e quem quer se expressar por meio dela, não é? E aí a gente poderia ficar aqui elencando um punhado de razões, do quanto é difícil de encontrar espaços de cultura, de divulgar projetos, de se fazer ser visto e reconhecido, de conseguir as condições materiais para se manter, e de... de... Mas no final das contas, isso tudo se dá amarrado a uma simples conformação, dessas de dar nó no nosso estômago: arte e cultura não são, de fato, entendidos como direitos, mas regalias. São transformadas em mercadorias justamente para afastar da gente a possibilidade de pegá-las em nossas mãos e de fazer do nosso jeito. Para a gente não pensar, mas consumir. 
Pode até ser que alguns deem sorte, aqui e ali. Consigam um projeto aqui, um patrocínio acolá. Deem a sorte de furar a barreira massacrante da burocracia e ponham os pés em uma salinha dos CEUs. Ocupem um lugar, como a gente lá no CDC. Mas não é se dividindo nem na lógica cada um por si que a gente vai mudar alguma coisa.
Então, se tem algo que me faz parabenizar o projeto que vi nesse final de semana concretizado nessa mostra, é o esforço de se enxergar no outro e de se juntar para a gente pensar junto. Tenho certeza de que esse é o começo de um projeto que possa extrapolar nossos bracinhos, tão limitados quando em separado. Um projeto que brade: a arte que a gente faz é nossa. E a gente vai fazer. E vai ser onde a gente tiver que fazer no nosso bairro. Independente de gestões políticas ou artemanhas.

"cantamos porque o sol nos reconhece
e porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta"
(trechos do poema "Porque cantamos",
de Mario Benedetti)

Juntos somos mais fortes!
Obrigado, Arenart, por ter propiciado esse espaço de reflexão!

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