sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Série Rotatórias - Ocupe a cidade ou quem roda é você!

Ontem realizamos a primeira de uma série de intervenções de ocupação de uma rotatória que fica no cruzamento da Avenida Patrocínio Paulista com a Rua Xapuri, pertinho da nossa sede. 

A gente se inspirou numa intervenção urbana realizada em 2007 pelo Coletivo [Conjunto Vazio], em Belo Horizonte. Chamada de "A Ilha", ela propõe uma nova utilização dos espaços públicos. Confiram mais fotos nesse link.

E como estudamos nada menos que o Direito à Cidade, a antiga referência veio bem a calhar agora, em que estamos discutindo a necessidade de sair para as ruas para dialogar com as pessoas. Para aquecer, fomos para a Praça Araruva, que fica logo ali embaixo, e demos continuidade a uma intervenção antiga, pintando flores de garrafa pet. O simples fato de estarmos na praça fazendo algo já chamou a atenção de quem passava por ali - foi tirar a mesinha e as cadeiras do carro para organizar nossos materiais e já vieram do bar ao lado perguntar se queríamos consumir alguma coisa, que eles traziam! Bem, foi uma experiência oposta a das nossas apresentações, quando as pessoas vinham nos abordar querendo comprar nossas coisas na medida em que arrumávamos o cenário.


 Mas não, a gente não estava ali para comprar. A gente estava ali para ocupar. Ocupar um espaço que nos é de direito. Flores e sprays dispostos no chão, uma câmera na mão, e logo apareceram comentários e perguntas sobre o que é que estávamos fazendo ali. Mais importante do que o que fazíamos, as conversas se encaminharam ao questionamento de porque estávamos fazendo ali.

"Seria legal se mais pessoas fizessem isso por aqui"
 

"Vocês vão estar aqui amanhã? Meu filho vai pirar de ver isso!"

Depois, com o sol mais ameno e uma brisa gostosa, rumamos à rotatória e montamos lá nosso canto da conversa. Cervejas, amendoim e bolachas num clima descontraído para prosear. Não deu um segundo para ouvirmos um "Aí sim, hein?"
 

Chegamos a conclusão de que 90% dos que passavam por ali de carro ou a pé definiam a possibilidade do espaço do ócio como "isso sim é vida". Pois é, isso sim é vida: termos domínio sobre o nosso próprio tempo. E isso é tão raro, hein? Se "isso sim é vida", então o que nos resta no nosso cotidiano (de)formado nos moldes do capital é sobrevida. 
 


 E, "aí sim", a constatação: a produção do espaço/tempo da cidade é voltada à nossa sobrevida. Ninguém tem que ter tempo de se entregar ao ócio, porque ele não é produtivo. Ninguém pode ter espaço para o ócio, porque o tempo da cidade nos engole. A cidade é suja, é perigosa e cheia demais no nosso percurso casa-trabalho-estudo. Fique seguro na sua casa, na sua propriedade privada. Sua, só sua. E deixe o espaço público ser também privatizado. Ou degradado, até que o interesse imobiliário venha varrendo o que não interessa (lixo, casa e gente) para aí sim privatizar. 
 


A gente tá fora dessa! Ninguém bota a mão no que é nosso, não. Por isso, vamos ocupar e debater. Porque ocupar é resistir!

Aí sim, hein?

Um comentário: