segunda-feira, 29 de julho de 2013

Pra quem não foi, mais valia ter ido!

Ontem aconteceu a primeira aula do curso Como Funciona a Sociedade 1, que o Ireldo, monitor do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio, gentilmente aceitou ministrar pra gente lá no CDC Vento Leste.



Grupo cheio e bacana. Começamos nossa conversa tentando explicar que diacho é nosso país e como ele funciona. A cada afirmação, um novo questionamento e um nó na cabeça.
 
O que é um país? Quem ou o que é que manda nele? Como esse negócio todo se estrutura?
 
Depois que a gente montou uma rede de instituições e forças que, interligadas, garantem a manutenção desse estado de coisas, partimos para um exercício prático.
 

 
Imagine uma fábrica de sapatos. Do que é que ela precisa para funcionar? E do que é que cada coisa nessa fábrica de sapatos precisa para existir e estar lá? Quanto trabalho humano não se esconde num simples par de sapato? E quanto de exploração desse trabalho humano não se esconde nesse processo todo?
 
Pausa para o almoço e para organizar as ideias na cabeça.
 

Na volta, uma conversa sobre a teoria do valor e da mais valia. Marx na veia!!!

E aproveitamos para compartilhar um relato pessoal, escrito pelo Roberto, nosso parceiro do Coletivo em Construção, que ajudou a organizar o curso:

"Foi um dia cheio de rico aprendizado, debates instigantes, aproximações férteis e conversas agradáveis no boteco ao lado da estação. Particularmente, gostei bastante da formação, principalmente do caminho percorrido pelo Ireldo, partindo de questões básicas do senso comum e chegando a um assunto tão complexo como pode ser (mas não foi graças ao "método" utilizado) a mais-valia.
As várias dinâmicas e a relação horizontalizada que se estabeleceu foram, sem dúvida, ferramentas chave para que as mentes se abrissem, para que o diálogo permeasse o espaço e para que tudo aquilo se caracterizasse de fato como uma experiência potente e atravessadora (no sentido mais genuíno do termo, é claro).
Parafraseando a Camila (não necessariamente com estas palavras), por mais que já conheçamos uma coisa ou outra sobre o assunto, é sempre uma redescoberta um tanto quanto indignante que ao mesmo tempo nos convida ao posicionamento e à prática (leia-se práxis) transformadora (leia-se revolucionária), seja qual for a roupagem que ela venha assumir e seja quais forem as dificuldades sob as quais ela se apresente. Olhava ao redor e via rostos e corpos que diziam "onde isso vai dar?" e pensava "devo estar igual". Na medida em que as coisas iam se desdobrando e que, com questões e intervenções lúcidas, íamos compondo o entendimento coletivo acerca daquilo que surgia ante nós, as pessoas que haviam acordado cedo num domingo que prometia frio começavam a perceber o quanto tinha valido a pena aquele esforço de se dispôr a entender como funciona a sociedade. E não é que o sol saiu! Compreendemos que toda a riqueza existente é fruto do trabalho que por sua vez é a única mercadoria que gera valor, que todo esse trabalho é exercido por uma classe, a nossa classe, a classe trabalhadora, que por sua vez é explorada e oprimida por uma outra classe, a dos capitalistas detentores dos meios de produção. E que o mecanismo perverso que sustenta toda essa exploração e toda a geração de riqueza concentrada na mão de poucos encontra suas bases em algo chamado mais-valia.
Quando o cálculo hipotético utilizado para explicar a tal da mais-valia foi concluído muitas perguntas surgiram, mas percebi depois que as intervenções se davam num misto de dúvida e indignação. O "não entendi" continha uma boa dose de "não aceito". Mas graças a paciente, atenciosa e esclarecedora explanação do monitor do Núcleo de Educação Popular 13 de Maio o "não entendi" dissipou-se ficando apenas o indispensável "não aceito" que nos move.
Não poderia deixar de comentar também o delicioso almoço que reabasteceu as barrigas para que as cabeças pudessem continuar. Afinal o poeta já avisou: "primeiro a barriga depois a moral" rs... Uma macarronada digna de repetir a pratada com direito a molho com carne de soja, salada de alface, tomate e muito queijo ralado. Tudo direto da cantina das Elaines! Pois é... Valeu muito a pena, e como valeu! "Para quem não foi, mais valia ter ido!", né? Valeu parceiras Albertinas, valeu companheir@s do Coletivo em Construção, valeu Iraldo do 13 de Maio e, por fim, mas não menos importante (clichê), valeu a tod@s que somaram na construção desse dia.
Como alguns foram ao Cabaret Antropofágico após a formação, acho apropriado fechar esse relato com alguns dos explosivos versos que por lá ouvimos e que vai ao encontro do que foi compartilhado pelo Ireldo: "...fuzis ou correntes, ninguém ou todos, tudo ou nada, sozinho ninguém pode se salvar... Desde já os que estão de acordo cantem: Vejam vocês, a história nos cercou. Temos nossa decisão. Nossos braços cruzados, suas máquinas paradas. Nenhum acordo com o patrão!"."

 
 
Agora é sistematizar as informações todas e se preparar para o próximo encontro, que logo mais vem aí! E, até lá, fazer boas leituras. Segue uma primeira indicação!
 


 

Aula de vôo Mauro Luis Iasi
 
O conhecimento
caminha lento feito lagarta.
Primeiro não sabe que sabe
e voraz contenta-se com o cotidiano orvalho
deixado nas folhas vividas das manhãs.

Depois pensa que sabe
e se fecha em si mesmo:
faz muralhas,
cava trincheiras,
ergue barricadas.
Defendendo o que pensa saber,
Levanta certezas na forma de muro,
orgulhando-se de seu casulo.

Até que maduro
explode em vôos
rindo do tempo que imaginava saber
ou guardava preso o que sabia.
Voa alto sua ousadia
reconhecendo o suor dos séculos
no orvalho de cada dia.

Mesmo o vôo mais belo
descobre um dia não ser eterno.
É tempo de acasalar:
voltar à terra com seus ovos
à espera de novas e prosaicas lagartas.

O conhecimento é assim:
ri de si mesmo
e de suas certezas.
É meta da forma
metamorfose
movimento
fluir do tempo
que tanto cria como arrasa
a nos mostrar que para o vôo
é preciso tanto o casulo
como a asa.

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